André De Rose
Incenso é uma palavra que deriva do latim incensum, que significa incendiar e está relacionada etimologicamente a palavra perfume que vem do latim per fumum, pela fumaça. É curioso notar que no sânscrito a palavra dhúpa pode significar tanto incenso quanto perfume e é um dos produtos mais antigos comercializados pelo homem. Em português Incenso refere-se tanto a resina natural, extraída de plantas das famílias Burseracereae, Estiracaceae e Anacardiaceae, como as massas aplicadas às varetas as quais são adicionados perfumes e resinas naturais para aumentar o aroma que é exalado durante a queima.
Bem antes de dominar o fogo o ser humano já tinha conhecimento sobre a queima de substâncias aromáticas através de incêndios ocasionais em florestas que volatizavam os aromas das madeiras odoríficas. Posteriormente, ao dominar o fogo, passamos a queimar essas madeiras e folhas para reproduzir os diversos cheiros que mais nos agradavam.
No passado o incenso autêntico era uma resina [1] produzida a partir do córtex do olíbano, árvore da família Burseraceae, (Boswellia serrata) que era extraída por incisão do seu tronco e que apenas três mil famílias de sabeus (antigo povo árabe) conheciam e cultivavam. O incenso era recolhido somente depois que a resina secava e endurecia. Durante muito tempo os comerciantes de incenso mantiveram a sua procedência desconhecida tanto que até recentemente acreditava-se que viesse da Índia. As rotas do comércio do Incenso eram mantidas em total segredo, muitas lendas acabaram se desenvolvendo a partir dos grandes riscos que eram assumidos pelos donos das caravanas que atravessavam os lugares mais inóspitos. Era um comércio sagrado, muitos dos coletores eram eunucos ou castos, pois era sabido que se a resina fosse colhida por um homem que tivesse tido contato sexual com mulheres durante uma fase lunar, tornaria o incenso acre ou rançoso. Outra lenda dizia respeito aos guardiões na forma de enormes serpentes aladas que cada árvore possuía, e que eram devidamente afastadas delas com a fumaça produzida pela queima da resina do estoraque. [2] Era um produto tão cobiçado e valioso que os escravos dos comerciantes que colhiam eram obrigados a trabalharem nus para não o roubarem.
Hoje para a maioria dos leigos, convencionou-se denominar “Incenso” toda mistura de componentes aromáticos, embora a maioria não possua incenso em sua formula muitos contem resinas, raízes, madeiras, cascas, gomas, flores e até minerais que são usados como material básico para serem queimados e liberarem perfumes dando uma nova atmosfera odorífica aos ambientes. O incenso tradicional é em formato de pequenos grãos ou em pó, já a sua versão em varetas é uma novidade moderna.
Na Índia o incenso começou utilizado como fragrância em ambientes quentes e úmidos com o objetivo de dispersar o odor dos peregrinos que após dias sem banho reuniam-se em claustrofóbicos ambientes de meditação.
Concluindo, incenso é o nome da resina que vai dar o aroma e a consistência ideal para a fixação a vareta de madeira e muitas vezes ela é substituída por produtos mais baratos, na maior parte das vezes químicos. Vale ressaltar que na índia, até o presente momento, eles não possuem nenhum controle de qualidade nem fiscalização de qualquer tipo.
Quando estive na Índia e recentemente em pesquisa eu procurei por todos os lugares quem fazia incenso e fiquei pasmo, pois além de não ter incenso na fórmula as essências e perfumes eram químicas.
Depois de muito rodar eu encontrei dois, um era feito com essências naturais, mas ainda não tinha incenso, o outro tinha incenso, mas estava cheio de química, acabei me deparando com um dilema se eu quisesse algo bom teria que produzir eu mesmo. Já ia me esquecendo, existe uma outra possibilidade é o incenso feito com esterco de vaca e por incrível que pareça é o menos pior !
Se você quiser ter certeza de que o incenso é ruim, é só dar uma olhadinha para o preço, sendo barato é ruim com certeza, pois é impossível fabricá-lo por menos devido ao alto custo das substancias envolvidas na sua confecção. Mas se for caro nem sempre significa que é bom você pode estar sendo ludibriado. Até o momento eu não conheço nenhum incenso indiano que eu realmente me arriscaria a usar. Aliás, se alguém conhece, por favor, me indiquem um bom incenso (precisa se possível ter na sua fórmula: incenso, sal, carvão e nenhuma química).
Mas não fique preocupado se você gosta dos incensos indianos existe a possibilidade de acendê-lo um pouco antes de sua pratica de meditação ou deixar o ambiente bastante ventilado e jamais deixá-lo perto de você.
O que não deve ser feito é utilizar o incenso, de qualquer tipo, diariamente para estimular o a prática de pránáyáma, pois apesar de variarem no grau de toxidade, TODO incenso a partir que funciona com um processo de queima libera partículas para o ar. Recentemente o uso do incenso foi pesquisado por cientistas britânicos e os resultados não foram nada bons… Como referência, abaixo uma transcrição da reportagem da CNN.
Informa a CNN – PARIS – A fumaça do incenso, substância aromática utilizada pelos hindus, budistas e cristãos em lugares de culto, pode ser perigosa para a saúde devido à presença de elementos cancerígenos, diz um estudo publicado na última edição da revista “New Scientist”. O nível de um componente químico considerado causador do câncer de pulmão, segundo o estudo, era 40 vezes mais alto em um templo de Taiwan mal ventilado do que em lugares onde se fuma cigarros. Além disso, o incenso causa mais poluição do que a circulação de carros em um cruzamento, explicam os pesquisadores. “Com toda sinceridade, queríamos que o fato de queimar incenso só trouxesse bem-estar espiritual (…) mas existe risco potencial de câncer, ainda que não sejamos capazes de quantificá-lo no momento”, disse à revista o pesquisador Ta Chang Lin, da Universidade nacional Cheng Kung de Taiwan. Sua equipe de trabalho recolheu amostras nas partes interna e externa de um templo de Taipé e também em um cruzamento da capital. No interior do templo, encontram-se concentrações muito fortes de hidrocarbonetos aromatizantes policíclicos (PAHs), grupo de componentes químicos altamente cancerígenos que se desprendem durante a combustão de certas substâncias. O nível de PAHs dentro do templo era 19 vezes mais alto que fora dele e também superior ao registrado no cruzamento estudado. Em especial o benzopireno, um PAH muito cancerígeno, estava presente em grande quantidade no interior do templo. Os pesquisadores mediram níveis 45 vezes mais elevados que nas moradias dos fumantes e 118 vezes maior que nas casas onde não se queima incenso ou fuma. “No decorrer de certas cerimônias, dezenas ou até centenas de bastões de incenso são queimados por fiéis simultaneamente. Às vezes, mal se consegue ver o que se passa do outro lado do recinto. Nos preocupamos com a saúde dos que cuidam e limpam os templos”, declararam os pesquisadores à publicação britânica.
[1] As resinas são secreções que possuem duas consistências, podem ser sólidas ou semi-sólidas e são produzidas por plantas e árvores. Para saber se são resinas basta observar se são solúveis em solventes orgânicos, já as gomo-resinas são parcialmente solúveis em qualquer tipo de solvente. Na antiguidade, as resinas eram coletadas de árvores que cresciam na Bacia Ocidental do Mediterrâneo, enquanto as gomo-resinas eram colhidas de árvores das montanhas no sul da Península da Arábia e na Abíssinia (atual Etiópia).
[2] Estoraque é uma substância balsâmica extraída da resina produzida por arbustos da família das Estiráceas.